#5 | não sei se essa palavra existe, mas quero evitar essa vibe
faz um tempo que não apareço por aqui, então o email de hoje vai ser meio caótico!
🧠tema dos últimos tempos na minha cabeça: evitando celebritismo
nos últimos meses lá no Minas Programam, começamos um processo de consolidar os princípios que regem nossa comunicação (interna e externa). como uma organização que já funciona há anos com uma equipe bem pequena, a gente meio que se acostumou a se comunicar como *eu* me comunico (ou como outras pessoas da equipe se comunicam). isso significa que a nossa comunicação institucional sempre foi meio ~orgânica~ , mas temos sentido falta de ter mais estrutura e princípios compartilhados, principalmente conforme a organização cresce.
foi entrando gente na equipe e comecei a perceber que nem todo mundo conseguia entender porque tomamos decisões sobre nossa comunicação de forma x ou y. então, resolvemos consolidar os princípios norteadores da nossa comunicação de forma coletiva. alguns princípios incluem coisas como: falar/escrever de tecnologia de uma forma acessível, democrática e que respeite a inteligência das nossas leitoras (vou falar disso em um próximo email!); ter autonomia e sermos donas do conteúdo que produzimos; falar/escrever de tecnologias digitais com uma perspectiva crítica, informada pelo feminismo interseccional e pelo trabalho de pensadoras feministas e feministas negras; e evitar práticas de comunicação que reforçassem uma cultura de celebritismo/individualismo.
no email de hoje, vou deixar alguns links sobre este último tema!
evitando a cultura de celebritismo (não sei se essa palavra existe!)
como organização, temos um compromisso com o feminismo interseccional e valorização da coletividade. na nossa comunicação, procuramos elevar o trabalho e a produção intelectual de pensadoras, tecnologistas e ativistas negras (principalmente as que vieram antes de nós) e evitar corroborar com a “cultura de celebritismo” nos movimentos sociais/nas organizações feministas.
para nós, isso significa que reconhecemos a importância do nosso trabalho e sabemos que transmitimos conhecimento através das nossas atividades/fazemos coisas bem legais, mas intencionalmente não nos colocamos individualmente como pioneiras ou como “o rosto” de um movimento/de um setor. enquanto projeto, e mais recentemente, enquanto organização, não vemos sentido ter uma comunicação focada em “empoderamento individual” – queremos fomentar uma visão coletiva sobre o que é se organizar politicamente enquanto feminista.
aqui vão *alguns* links que tem me feito pensar nisso enquanto escrevemos os princípios de comunicação do Minas Programam:
nesta sequência de tweets, a ativista Mia Mingus explica que a cultura de celebridades se estende além de celebridades ~de verdade~ e se reproduz nos nossos movimentos, organizações, grupos, coletivos, etc. no discurso “Moving Toward the Ugly: A Politic Beyond Desirability”, ela menciona as pessoas, grupos e ativistas que informam/constroem os movimentos que ela compõe, num esforço de resistir e desafiar a cultura de “celebritismo” que existe nos movimentos.
neste texto, Aiko Fukuchi explica como idolatrar líderes de movimentos e de organizações acaba exacerbando burnout e atrapalhando os movimentos coletivos.
“As redes sociais servem como um veículo para os nossos movimentos se conectarem, construírem, comunicarem e se mostrarem uns para os outros. Elas também funcionam como um lugar para apresentar líderes e seus impactos (atuais e históricos) através das lentes do individualismo. Afinal, as redes sociais estão programadas para descentralizar os esforços coletivos e hiper-fixar em conquistas individuais.”
nesta entrevista, a Mariame Kaba fala sobre como é arrogante presumir que indivíduos sozinhos terão as respostas para problemas construídos ao longo de gerações por inúmeras pessoas.
essa é uma lista que tá LONGE de ser exaustiva! vou tentar voltar com mais links sobre isso nos próximos emails :)
🧰no que eu tenho trabalhado esses dias:
tem vários episódios novos do podcast do Minas Programam.
tô com um projeto novo no trabalho, focado em contribuir para um ecossistema de informação mais saudável e robusto na América Latina.
📖leituras dos últimos meses:
só os livros que eu mais gostei de ler entre maio e hoje!
não-ficção:
Pertencimento: uma cultura do lugar da bell hooks.
O fascismo da cor: Uma radiografia do racismo nacional;, do Muniz Sodré
More than a Glitch: Confronting Race, Gender, and Ability Bias in Tech, da Meredith Broussard. (escrevi sobre ele aqui)
“You Just Need to Lose Weight”: And 19 Other Myths About Fat People, da Aubrey Gordon.
ficção:
The Three of Us, da Ore Agbaje-Williams.
The Happy Couple, da Naoise Dolan.
Yellowface, da R.F. Kuang.
Detransition Baby, da Torrey Peters.
Kim Jiyoung, Nascida em 1982, de Cho Nam-Joo.
acho que é isso por hoje! até a próxima!