#2 | é cafona usar a palavra "esperança" no título de um email?
oie
um mês depois do primeiro email, tô de volta com:
algumas das minhas leituras preferidas do semestre, com indicações pra quem tá cansada de pensar que a gente tá lascada e que nada tem solução.
e vagas e oportunidades legais!
🧠tema dos últimos tempos na minha cabeça: esperança e futuros não-podres
em algum momento na primeira temporada da pandemia, eu adotei o hábito (ou obsessão) de catalogar tudo que eu tava lendo. e foi assim que percebi que, mais ou menos intencionalmente, muita coisa que li no último semestre falava (de uma forma ou outra) sobre esperança.
e sei lá, talvez tenha sido o período de pré-eleição (ou a eleição em si, ou até o pós-eleição), talvez seja o caos climático, talvez sejam os 30 anos completos em novembro, mas eu tava *precisada* de coisas que me mostrassem: “Bárbara Jéssica, nem tudo tá indo pro beleléu! o mundo tem jeito (e você também, só precisa de mais ácido hialurônico)”.
enfim, então bora para a mini-listinha de livros que me deram uma sensação parecida com escutar Tá Escrito (eu digo “parecida”, porque né, o que essa música causa é inigualável).
📖ao longo do semestre eu li trechos de A Radical imaginação política das mulheres negras brasileiras, do Mulheres Negras Decidem, que mostra como as contribuições políticas das mulheres negras brasileiras nas últimas décadas. temos um projeto de país que é incrível <3 e isso me deu esperança demais.
📖em agosto, li o Pollution is Colonialism, de Max Liboiron - ok, o título não emana uma vibe de esperança, mas vem comigo. aprendizado 1: no livro, que fala muito sobre como os estudos tradicionais sobre poluição são muito coloniais, a gente aprende que precisa começar a pensar sobre poluição como uma violência derivada das relações coloniais com a Terra, e não como um mero “dano ambiental”. aprendizado 2: uma ciência anticolonial não foca apenas nos resultados da violência (“quanto plástico tem nesse peixe?”) e sim nas origens dessas violências (“como e por quê esse plástico foi parar nesse peixe, aqui neste lugar? que estruturas permitem este tipo de violência?”). aprendizado 3: uma ciência anticolonial é mais que possível: já tá acontecendo e sendo praticada em muitos lugares.
📖depois teve o Hope in the dark, da Rebecca Solnit - que, ok, é uma recomendação clichê para quem quer ler sobre esperança e movimentos sociais, e realmente achei que foi uma leitura importante neste meu semestre caótico. duas coisas que “ficaram comigo”: 1) a gente não sabe o que vai acontecer, e por isso deveria usar nossa indignação para criar coisas melhores (e não só pra ficar reclamando), e 2) precisamos trabalhar mais para documentar nossas vitórias e comunicar mais narrativas de como ativismos são bem sucedidos.
citações preferidas:
“Hope is not the belief that everything was, is, or will be fine. The evidence is all around us of tremendous suffering and tremendous destruction. The hope I’m interested in is about broad perspectives with specific possibilities, ones that invite or demand that we act.”
“Joy doesn't betray but sustains activism. And when you face a politics that aspires to make you fearful, alienated, and isolated, joy is a fine initial act of insurrection."
📖lá pelo meio do semestre, teve o Our Missing Hearts - como tudo da Celeste Ng, achei envolvente e amei 😭😭😭 a história se passa nos EUA, num futuro não muito diferente do presente. o país está num estado de hiper-vigilância, censura e racismo. o personagem principal é o Bird, um menino de 12 que é filho de uma poeta chinesa-americana que desapareceu depois que um de seus poemas vira um slogan de protestos. um dia, ele recebe uma carta com ~pistas~ e… vou parar por aqui para evitar spoilers.
citação preferida: “Author originally meant one who grows: someone who nurtured an idea into fruition, harvesting poems, stories, books. Poet, if you traced back far enough, came from the word for to pile up-the earliest, most basic form of making.”
📖depois, comecei o We Do This 'Til We Free U: Abolitionist Organizing and Transforming Justice, da Mariame Kaba - eu mencionei o livro na última newsletter, e recomendo muito para quem quer saber mais sobre justiça racial e de gênero e abolicionismo penal. a Kaba é quem tornou a frase “hope is a discipline” conhecida e em cada capítulo do livro ela compartilha um artigo, ensaio ou entrevista sobre abolicionismo penal e justiça transformativa.
citações preferidas:
“I believe ultimately that we’re going to win, because I believe there are more people who want justice, real justice, than there are those who are working against that. And I don’t take a short-term view. I take a long view, understanding full well that I’m just a tiny, little part of a story that already has a huge antecedent and has something that is going to come after that.”
“Because in the world we live in, it’s easy to feel a sense of hopelessness, that everything is all bad all the time, that nothing is going to change ever, that people are evil and bad at the bottom. It feels sometimes that it’s being proven in various different ways, so I really get that. I understand why people feel that way. I just choose differently. I choose to think a different way, and I choose to act in a different way.”
muita gente fica cética em relação à ideia de “esperança” por achar que é o mesmo que um otimismo infundado (a ideia de que tudo com certeza vai dar certo) ou o oposto de pessimismo (a certeza de que tudo vai dar errado). mas essas leituras me lembraram de que esperança é olhar para a incerteza e saber que tem espaço para fazer coisas melhores (esse artigo aqui fala disso).
🧰no que eu tenho trabalhado esses dias:
🎧o podcast do Minas Programam tá cheio de episódios bacaninhas. os mais recentes são sobre afroempreendedorismo e ciberativismo de mulheres negras amazônidas.
✉️ oportunidades legais que vieram parar na minha caixa de entrada:
ok, essa não ‘apareceu casualmente’ na minha caixa de entrada, mas o Minas Programam tá contratando!
a MamaCash também tá contratando! e aqui tem várias vagas! e o Equality Fund tá com essa chamada para consultoras/es feministas. e a Triggerise (organização que trabalha com saúde sexual e reprodutiva) tá procurando uma pessoa Oficial de Proteção de Dados para o escritório de Lisboa.
quer escrever sobre mobilização e ativismo? o Mobilisation Lab tá aceitando pitches de jornalistas e ativistas.
a Digital Defenders Partnership tá oferecendo um fundo emergencial para defensores de direitos humanos, jornalistas e ativistas enfrentando ameaças e ataques digitais.
acho que é isso por hoje! se ler isso aqui, me conta o que achou? bom fim de ano!!! 🥰
*e foi mal por não traduzir as citações, não queria que o sentido original se perdesse.