#1 | memória e documentação
nesta primeira edição, eu falo sobre construção de memória e de documentação para ativistas e movimentos.
oi!
esta é a primeira edição da minha newsletter! chamei de “bagunças (potencialmente) úteis” porque a) minha cabeça é uma bagunça e esta newsletter é um compromisso periódico de me organizar um pouco, e b) quero compartilhar coisas potencialmente úteis que eu vejo/escuto/leio.
eu passo muito tempo aprendendo e/ou trabalhando com temas relacionados a tecnologia, justiça social, feminismo negro e ativismo, então as coisas que eu compartilho por aqui podem ser especialmente relevantes para pessoas interessadas nestes temas. :)
🧠tema dos últimos tempos na minha cabeça: memória e documentação
nos últimos dias tenho lido/escutado/pensado muuuuito sobre construção de memória e de documentação para ativistas e movimentos.
esses dias eu tava lendo o livro We Do This 'Til We Free Us (ainda não terminei!!), da ativista abolicionista Mariame Kaba. na introdução do livro, descobrimos que ela “odeia escrever”, mas que escreve mesmo assim. quando questionada sobre o porquê, ela diz: “document your work and write yourself into the record” (em tradução minha: documente seu trabalho e escreva a si mesma nos registros). ela fala de como é importante que ativistas escrevam sobre seu trabalho independentemente de atenção midiática, de número de seguidores, de opiniões da academia.
em "Misogynoir Transformed: Black Women’s Digital Resistance", a pesquisadora Moya Bailey conta que uma de suas motivações para escrever é o fato de que grande parte do trabalho e das realizações de mulheres negras na internet são invisibilizadas. Bailey também reforça como é importante que seja criado algum tipo arquivo, um “repositório digital” que mostre como mulheres negras (ativistas, criadoras, escritoras e mais!), têm movido e moldado a internet que temos hoje.
recentemente, a artista negra estadunidense Vicki Meek também falou da importância de pessoas negras controlarem as próprias narrativas. lá pelos 34 minutos ela fala algo como: “pense no seu arquivo agora, não deixe para outra pessoa contar a sua história”. e existe uma enorme (e crescente!) quantidade de mulheres negras que têm escrito a si mesmas nos arquivos!
nas últimas semanas, dois lançamentos audiovisuais me fizeram pensar bastante nisso de registrar/documentar/arquivar: a websérie “Caminhos e legados”, que comemora os 34 anos de existência do Instituto Geledés; e o mini-documentário 30 anos de Criola, sobre os 30 anos de atuação da ONG. ambos são registros muito importantes da trajetória do movimento de mulheres negras brasileiras.
o Blogueiras Negras é outra organização que têm ressaltado há anos a importância de organizações da sociedade civil, coletivos e movimentos sociais criarem seus próprios canais de comunicação. nesse sentido, o BN - que é uma plataforma crucial para a escrita de mulheres negras no Brasil - tem construído um registro consolidado em seu próprio site, garantindo autonomia sobre sua própria história. (aliás, já fica a recomendação de escutar o podcast do BN, sobre o legado da comunicação no movimento de mulheres negras).
outro projeto incrível que vi esses dias é da Dr. Meredith Clark, pesquisadora estadunidense que trabalha com intersecções de raça, mídia e poder. ela está liderando um projeto para arquivar o “Black Twitter”, como parte de um projeto mais amplo para arquivar a memória da internet negra.
pensar/ouvir/ler sobre estes temas é algo que está muito presente nos últimos tempos também por conta das conversas que eu e a Ester Borges temos tido com as convidadas do podcast do Minas Programam! em especial, as conversas com a pesquisadora Thiane Neves (autora do artigo “Estamos Em Marcha! Escrevivendo, Agindo E Quebrando Códigos”) e com a Suelaine Carneiro (com quem falamos sobre a importância de cultivar memória dos movimentos negros). o episódio com a Thiane sai em algumas semanas e o episódio com a Suelaine saiu hoje!
🧰no que eu tenho trabalhado esses dias:
🎧PARA OUVIR: bom, como eu disse nas linhas acima, lá no Minas Programam estamos muito inspiradas pela coisa toda de registrar mais os nossos caminhos. então lançamos um podcast sobre ativismo de mulheres negras e tecnologias digitais! os primeiros episódios já estão no ar: junto com a Ester, entrevistei a Dulci Lima (que escreveu seu doutorado sobre feminismo negro nas redes sociais) e a Suelaine Carneiro (do Instituto Geledés).
📚PARA LER:
ajudei a compilar uma lista com algumas das principais perguntas que organizações da sociedade civil têm sobre tecnologia e dados. disponível aqui (em português, inglês, francês, e espanhol).
colaborei para este texto sobre os desafios que temos visto para a resiliência digital de organizações da sociedade civil.
junto com a equipe do Minas Programam, compartilhei algumas reflexões para pessoas interessadas em construir projetos de ensino de programação.
bônus: semana passada fez um ano (!!!) que o prefácio que escrevi para o livro ‘algoritmos da opressão’ viu a luz do dia.
💭coisas que eu li/ouvi/vi que me fizeram pensar:
co-liderança feminista: duas feministas incríveis (e ex co-líderes da FRIDA) publicaram este recurso multimídia sobre co-liderança feminista!
mapa dos territórios da internet: a coding rights publicou o cartografiasdainternet.org, um recurso bem completo para visualizar as relações de poder que perpassam o funcionamento da internet e mostrar como a Internet é um território em disputa, que afeta nossas democracias e também a justiça climática.
este fio maravilhoso que a Isabela Sena escreveu sobre a relação entre feministas negras, comunismo e militância de esquerda no Brasil.
✉️ oportunidades legais que vieram parar na minha caixa de entrada:
o Localization Lab tá procurando uma pessoa para ser “Program Associate”. se você é alguém que se interessa por acesso à tecnologia e à informação, dá uma olhada.
a greenweb foundation tá com inscrições abertas para uma fellowship de 10 meses em justiça climática e direitos digitais.
a Whose Knowledge tá com duas vagas abertas!
o Freedom Fund tá com vaga aberta para alguém com experiência em M&A em Recife.
a Thousand Currents tá procurando uma pessoa para ser Program Manager – Latin America e Caribe.
a We Are Feminist Leaders tá oferecendo um programa de 12 semanas de treinamento em liderança feminista! (não liderança feminina, liderança com princípios feministas!)
acho que é isso por hoje! nos vemos na próxima :)